segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Cigarrete e sodinha!

Era uma tarde ensolarada do primeiro dia de feriado. Antes mesmo de chegar em casa depois de uma viagem de horas, Cris foi comer cigarrete com o sodinha porque na capital isso não existe. A cidade grande até tentou, empreendedora que é, a fazer algumas cópias infiéis e sem sucesso do cigarrete, como enroladinhos com salsicha ou de presunto e queijo, mas assado. Nada comparável. Quem mora em Três Pontas sabe disso.
Tudo estava muito propício. A tarde de sol, a hora do café da tarde, as padarias e lanchonetes movimentadas de gente fazendo o mesmo pedido. Pegou o cigarrete no balcão e esperou a sodinha na mesa. Ia virar para dizer pro moço que ele tinha se enganado, mas reparou bem e era um casco de sodinha.
O refrigerante de abacaxi, também só da região, era o mesmo talvez a mais de 26 anos (fez as contas porque essa era sua idade). Quando viu aquele casco nos moldes do guaranazinho moderno foi como uma traição profunda e imperdoável à sua infância.
Refrigerantes não eram assim tão fáceis. Quando chegava engradado de sodinha em casa o coração pulava, porque anunciava aniversário. As crianças assentavam nas cadeiras dispostas em roda pelos grandes, que iam servindo cachorro quente, cigarretinho (sim, o mesmo, mas na versão miniatura pra festa) e sodinha. A brincadeira era saber quem ia sair com o casco branco ou o verde porque os cascos marrons eram mais comuns. Tinha até um jeito mais legal de beber, que era fazendo um furinho na tampa.
Pensou que não se fazem mais sodinhas como antigamente, não se fazem mais festinhas de aniversário, nem brincam na rua, nem trepam nos muros e nas árvores, não roubam mexericas em março, jabuticabas em outubro e nem mangas em janeiro...
Crescimento econômico à parte, pensou que quem vai pra casa passar o feriado acredita que as coisas vão estar lá, imutáveis como gostaríamos. Como se o tempo não passasse por ali, porque é isso que queremos: que nossas cidades permaneçam com o cheiro e o gosto da ingenuidade que a gente tinha...

Comeu o cigarrete e bebeu a nova e moderna sodinha.

domingo, 1 de agosto de 2010

Serenatas virtuais!

Pois é. Quem nunca disse: "essa música é minha"?! Ás vezes a gente até procura ter o sentimento que a canção descreve, só pra poder curtir mesmo...chorar ou sorrir com as melodias.
Cada música compões um ambiente. Tem quelas que a gente jamais escutaria no quarto, mas dança na rua. Tem aquelas bregas, que a gente ouve dez vezes com fones de ouvido, e tem as inspiradoras...que no meu caso me fazem escrever.
A música tem o poder de curar a dor, quando descreve tão bem o que sentimos ou o que queremos falar. Não falamos, mas atualmente postamos vídeos e letras de músicas em orkuts,facebooks, etc como quem quisesse dizer algo à alguém (e só esse alguém relacionado à letra é que vai compreender).
Fico pensando nos tempos das serenatas, e não dos posts. Queria-se dizer: "Meu coração, não sei porque, bate feliz, quando te vê..." e, se o pobre não tocasse nada além de galinhas e vacas, teria que se unir aos amigos pra pelo menos poder cantar sem muitos desafinos na janela designada.
Hoje muito mais simples, né? Fazemos serenatas virtuais o tempo todo, com o próprio cantor, sem risco de desafinos e sem remetente tão certeiro quanto uma janela de quarto... Algo se perdeu, claro, mas prefiro pensar que essas "serenatas virtuais" ainda tem sentimento!

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Cinza com bolinhas cor-de-rosa!

Bom, algum tempo se passou desde a minha última postagem!
Não vamos deixar isso acontecer, não é?
Não vamos deixar que os carros, prédios, pessoas, trabalhos e relógios nos impessam de ver algo colorido entre o branco, bege, cinza, preto, tons pastéis ou clássicos, sérios e impositivos!
Hoje, indo para o trabalho, descendo de ônibus a Avenida Rebouças, me chamou atenção um ponto comercial, não sei de quê, numa esquina da avenida.
Como vários pontos comerciais, era um sobrado antigo, dois andares, conservado. E o que havia bem na frente?
Um ipê. Rosa. Com flores no alto e o chão todo colorido.
Sorri. O moço em pé na frente não entendeu, olhou pra trás, não viu nada engraçado nem bonito.
Nesse momento muita gente ia para o trabalho, a rua estava cheia e eu me pus a pensar mais uma vez em Rubem Alves e em como chorei quando ele descreveu perfeitamente sua predileção pelos Ipês (acredito até que já postei aqui no blog).
A árvore que faz tudo ao contrário, insiste em florescer quando todas as outras dormem, em pleno inverno, alegrando a frieza.
No interior de Minas,em julho, eles colorem os pastos secos...
Aqui em São Paulo um Ipê anda colorindo a Rebouças. Ele é discreto, como quase tudo por aqui. Mas cumpre bem sua função:me mostra que é possível fazer tudo ao contrário!

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Campo e cidade!

Hoje, lendo os meus emails como de costume, fiquei surpresa especialmente com um, enviado pela Rosi, amiga do coração e companheira de república em Lavras.
Este email já rodou bastante. Acredito até que já li algum tempo atrás, mas como ainda não tinha uma visão do outro lado da moeda, não tinha me chocado tanto.
O texto é uma carta de um morador do campo para um amigo da cidade, relatando todas as multas por crimes ambientais que ele cometeu e com um tom sarcástico quanto aos atos do campo e os atos das metrópolis.
Preciso protestar.
Como nova moradora da cidade grande, o que vejo aqui, diariamente, é uma preocupação gisgante com o meio ambiente. As crianças estão sendo educadas e conscientizadas desde muito pequenas.
Como a natureza não é algo próximo e banal para muita delas, fica uma admiração e respeito quando estão nesse meio. Muitas vezes diferente daqueles que não se admiram com uma grande árvore, pq faz parte de suas vidas, vê-las diariamente.
Mas como nascida e bem criada no interior, não posso deixar de defenter meus conterrâneos caipiras. Entendo que o homem da cidade é meio estranho, inventa umas coisas esquisitas e fala engraçado. Caçoa da gente porque não consegue andar de metrô mas não diferencia um pé-de-milho de pé-de-arroz. Nesse sentido posso dizer com certeza de que um interiorano na cidade grande e um urbanóide no sítio se perdem da mesma maneira. Um não atravessa a rua movimentada, outro não sobe no cavalo e toca as vaquinhas. Um não se guia pelas ruas, outro não se guia pelas matas. Um não tem gps e celular último modelo, outro não tem canivete e tenta andar de mocassim no barro.
Portanto ambos devem caminhar juntos. Não há como escolher entre campo e cidade porque cada qual tem suas belezas e seus contras. Bom mesmo é caminhar de lá pra cá. Seja de helicóptero, avião, trem bala ou charrete.


e vejam só o email:

Prezado Luis, quanto tempo.

Eu sou o Zé, teu colega de ginásio noturno, que chegava atrasado, porque o transporte escolar do sítio sempre atrasava, lembra né? O Zé do sapato sujo? Tinha professor e colega que nunca entenderam que eu tinha de andar a pé mais de meia légua para pegar o caminhão por isso o sapato sujava.

Se não lembrou ainda eu te ajudo. Lembra do Zé Cochilo... hehehe, era eu. Quando eu descia do caminhão de volta pra casa, já era onze e meia da noite, e com a caminhada até em casa, quando eu ia dormi já era mais de meia-noite. De madrugada o pai precisava de ajuda pra tirar leite das vacas. Por isso eu só vivia com sono. Do Zé Cochilo você lembra né Luis?

Pois é.. Estou pensando em mudar para viver ai na cidade que nem vocês. Não que seja ruim o sítio, aqui é bom. Muito mato, passarinho, ar puro... Só que acho que estou estragando muito a tua vida e a de teus amigos ai da cidade. To vendo todo mundo falar que nós da agricultura familiar estamos destruindo o meio ambiente.

Veja só. O sítio de pai, que agora é meu (não te contei, ele morreu e tive que parar de estudar) fica só a uma hora de distância da cidade. Todos os matutos daqui já têm luz em casa, mas eu continuo sem ter porque não se pode fincar os postes por dentro uma tal de APPA que criaram aqui na vizinhança.

Minha água é de um poço que meu avô cavou há muitos anos, uma maravilha, mas um homem do governo veio aqui e falou que tenho que fazer uma outorga da água e pagar uma taxa de uso, porque a água vai se acabar. Se ele falou deve ser verdade, né Luis?

Pra ajudar com as vacas de leite (o pai se foi, né ...) contratei Juca, filho de um vizinho muito pobre aqui do lado. Carteira assinada, salário mínimo, tudo direitinho como o contador mandou. Ele morava aqui com nós num quarto dos fundos de casa. Comia com a gente, que nem da família. Mas vieram umas pessoas aqui, do sindicato e da Delegacia do Trabalho, elas falaram que se o Juca fosse tirar leite das vacas às 5 horas tinha que receber hora extra noturna, e que não podia trabalhar nem sábado nem domingo, mas as vacas daqui não sabem os dias da semana ai não param de fazer leite. Ô, bichos aí da cidade sabem se guiar pelo calendário?

Essas pessoas ainda foram ver o quarto de Juca, e disseram que o beliche tava 2 cm menor do que devia. Nossa! Eu não sei como encumpridar uma cama, só comprando outra né Luis? O candeeiro eles disseram que não podia acender no quarto, que tem que ser luz elétrica, que eu tenho que ter um gerador pra ter luz boa no quarto do Juca.

Disseram ainda que a comida que a gente fazia e comia juntos tinha que fazer parte do salário dele. Bom Luis, tive que pedir ao Juca pra voltar pra casa, desempregado, mas muito bem protegido pelos sindicatos, pelo fiscais e pelas leis. Mas eu acho que não deu muito certo.. Semana passada me disseram que ele foi preso na cidade porque botou um chocolate no bolso no supermercado. Levaram ele pra delegacia, bateram nele e não apareceu nem sindicato nem fiscal do trabalho para acudi-lo.

Depois que o Juca saiu eu e Marina (lembra dela, né? casei) tiramos o leite às 5 e meia, ai eu levo o leite de carroça até a beira da estrada onde o carro da cooperativa pega todo dia, isso se não chover. Se chover, perco o leite e dou aos porcos, ou melhor, eu dava, hoje eu jogo fora.

Os porcos eu não tenho mais, pois veio outro homem e disse que a distância do chiqueiro para o riacho não podia ser só 20 metros . Disse que eu tinha que derrubar tudo e só fazer chiqueiro depois dos 30 metros de distância do rio, e ainda tinha que fazer umas coisas pra proteger o rio, um tal de digestor. Achei que ele tava certo e disse que ia fazer, mas só que eu sozinho ia demorar uns trinta dia pra fazer, mesmo assim ele ainda me multou, e pra poder pagar eu tive que vender os porcos as madeiras e as telhas do chiqueiro, fiquei só com as vacas. O promotor disse que desta vez, por esse crime, ele não ai mandar me prender, mas me obrigou a dar 6 cestas básicas pro orfanato da cidade. Ô Luis, ai quando vocês sujam o rio também pagam multa grande né?

Agora pela água do meu poço eu até posso pagar, mas tô preocupado com a água do rio. Aqui agora o rio todo deve ser como o rio da capital, todo protegido, com mata ciliar dos dois lados. As vacas agora não podem chegar no rio pra não sujar, nem fazer erosão. Tudo vai ficar limpinho como os rios ai da cidade. A pocilga já acabou, as vacas não podem chegar perto. Só que alguma coisa tá errada, quando vou na capital nem vejo mata ciliar, nem rio limpo. Só vejo água fedida e lixo boiando pra todo lado.

Mas não é o povo da cidade que suja o rio, né Luis? Quem será? Aqui no mato agora quem sujar tem multa grande, e dá até prisão. Cortar árvore então, Nossa Senhora!. Tinha uma árvore grande ao lado de casa que murchou e tava morrendo, então resolvi derrubá-la para aproveitar a madeira antes dela cair por cima da casa.

Fui no escritório daqui pedir autorização, como não tinha ninguém, fui no Ibama da capital, preenchi uns papéis e voltei para esperar o fiscal vim fazer um laudo, para ver se depois podia autorizar. Passaram 8 meses e ninguém apareceu pra fazer o tal laudo ai eu vi que o pau ia cair em cima da casa e derrubei. Pronto! No outro dia chegou o fiscal e me multou. Já recebi uma intimação do
Promotor porque virei criminoso reincidente. Primeiro foi os porcos, e agora foi o pau. Acho que desta vez vou ficar preso.

Tô preocupado Luis, pois no rádio deu que a nova lei vai dá multa de 500 a 20 mil reais por hectare e por dia. Calculei que se eu for multado eu perco o sítio numa semana. Então é melhor vender, e ir morar onde todo mundo cuida da ecologia. Vou para a cidade, ai tem luz, carro, comida, rio limpo. Olha, não quero fazer nada errado, só falei dessas coisas porque tenho certeza que a lei é pra todos.

Eu vou morar ai com vocês, Luis. Mais fique tranqüilo, vou usar o dinheiro da venda do sítio primeiro pra comprar essa tal de geladeira. Aqui no sitio eu tenho que pegar tudo na roça. Primeiro a gente planta, cultiva, limpa e só depois colhe pra levar pra casa. Ai é bom que vocês e só abrir a geladeira que tem tudo. Nem dá trabalho, nem planta, nem cuida de galinha, nem porco, nem vaca é só abri a geladeira que a comida tá lá, prontinha, fresquinha, sem precisá de nós, os criminosos aqui da roça.

Até mais Luis.

Ah, desculpe Luis, não pude mandar a carta com papel reciclado pois não existe por aqui, mas me aguarde até eu vender o sítio.

domingo, 2 de maio de 2010

Decisões

Entre prédios e árvores,
crianças e parques,
frio e calor,
ator, cantor e compositor,
procuro um eu em mim.

Busca eterna, sem fim,
entre asfalto e terra,
quadrado e esfera,
branco e carmim,
deserto e jardim,
ouro e marfim.

Se marco entrevista,
não compareço.
Se traço caminhos,
me perco.
Se imponho metas,
me aborreço...

Nada além de um tudo bem,
que a vida tenha suas próprias vontades,
suas próprias verdades.
Que esse eu em mim mesma,
me acalme e me traga saudade.

E, diante de dois, três ou sete estradas,
que eu caminhe por todas, com a chance de voltar
e refazer sempre minhas muitas vidas,
curar minhas feridas,
e amar. Sempre amar.

terça-feira, 27 de abril de 2010

Um Belo Monte de feiúra

Já fui contra tudo isso de Dia das Mulheres, do Índio, da Consciência Negra. Pra mim esses eram valores naturais e não imaginava que coisas óbvias (para mim) não eram também para os outros.
Hoje sei que, se em algum momento essas minorias conseguiram alguma mudança, nada mais justo que um dia para que ganhem espaço na mídia, nas atividades, para que o homem seja sempre lembrado da maneira como agiu na história, e, covenhamos, não repita os mesmos erros.
Nada disso acontece.
Pois eis que, um dia depois do dia do Dia do Índio, acontece finalmente o Leilão de Belo Monte, usina hidroelétrica que será construída no Rio Xingu, desviando cursos de água, matando vegetação, peixes e outros animais, retirando comunidades índigenas de seus assentamentos e movendo comunidades agricultoras ribeirinhas.
Não creio que seja necessário citar o quanto essa iniciativa é cruel do ponto de vista ambiental e social. Mas o que importa. Afinal, é o maior empreendimento do PAC e a terceira maior usina do mundo.
Vamos ficar orgulhosos gente...o Brasil cresce muito economicamente!!

Um feliz 1530 para todos! Que este seja um ano de muitas realizações!!

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Os sons da natureza

Flauta de pássaros
que em alegres manhãs
se juntam aos metais das abelhas
que colhendo pólen
se juntam à maraca dos rios
que correndo na floresta
se juntam à guitarra das cigarras
que fazendo um rock
se juntam aos sapos tenores
que em perfeita sintonia
fazem dessa sinfonia
uma das melhores...

Contrate, se puder pagar.
Produzido pelas formigas,
que, fazendo um excelente trabalho,
garantem um maravilhoso espetáculo
tendo como cenário o luar...

Quem já foi ver ficou encantado...
certamente irá voltar...
Profusões de ritmos que se misturam
De uma forma que nunca imaginamos combinar...

Bandinha ousada essa da natureza,
Tem presença de palco, sabe o que faz
de sons malucos à apaixonantes
deixa qualquer um delirante
e não recebe direitos autorais.